Hoje é o primeiro aniversário do meu pai sem ele.
Comecei o ano de 2012 na praia, entrando na água de guarda-chuva porque estava chovendo. Abraçado com a Lídia, vimos os fogos estourando bem em cima da gente. Eu estava feliz, leve, tranquilo. Quase perdemos os fogos da virada porque estávamos jogando um jogo de tabuleiro com os pais dela, e estava tão divertido que ninguém fazia muita questão de comemorar a virada do ano na hora certa.
Duas semanas depois interrompi as férias em Juquehy, e voltei para Cachoeira Paulista para trabalhar na revisão de um artigo. Deixei a Lídia na praia, e alguns dias depois ela me mandou a poesia mais linda que já li. Minha mãe me ligou no mesmo dia, perguntou se estava tudo bem. Tinha lido a poesia e me achado triste. Falei que estava bem, que era saudade, que a poesia era da Lídia, pra surpresa da minha mãe. Minha mãe contou que meu pai andava triste, mais triste que o normal.
No dia seguinte, a notícia. Quando ouvi o choro da minha mãe no celular soube na hora que tinha perdido minha irmã ou meu pai. Era meu pai que tinha se ido. Deu tchau dessa vida e mergulhou de olhos fechados na água gelada. Completou-se o Roberto que nasceu moleque, viajou o mundo, aprendeu várias línguas, cativou tanta gente. Tinha então, ele, começo, meio e fim. Era uma história completa, uma trajetória fechada.
Chorei pouco no caminho até o aeroporto. Chorei mais quando encontrei Lídia me esperando lá. Chegando em Curitiba eu já tinha assumido o papel de homem da casa: queria saber detalhes, cuidar da minha mãe e irmã, protegê-las de tudo. No dia seguinte mais choro, no caixão, mas também algumas risadas ao lado do amigo de infância. Mas foram 3 meses em choque, e mais 3 meses até eu me pegar me sentindo feliz novamente.
Meu pai é meu herói. Herdei o nome, o gosto por viajar, a boa conversa solta na mesa de antigamente. Sou Roberto Antonio, sou doutor como ele. Ele me ensinou a fazer pipa, a ser honesto, a ser responsável, mas eu tinha tanta coisa para aprender com ele ainda. Ele me deu 9 meses para cuidar dele no fim da vida, e eu queria ter cuidado mais, melhor, queria tê-lo abraçado como ele deve ter me abraçado tantas vezes quando eu era pequeno. Quando contava a mesma piada, todo dia, porque eu pedia a piada do jogo de futebol entre insetos e aracnídeos.
Às vezes reclamo da injustiça que foi perdê-lo aos meus 33 anos, quando ele teve mais tempo de aproveitar meu vô, que morreu velhinho. Mas eu tive um pai maravilhoso, que sempre tinha uma história pra contar, um sorriso moleque e inocente por trás da cara austera de engenheiro. Quantos quilômetros de conversa não caminhamos lado a lado, desde a minha adolescência até o último aniversário, ano passado. Voltamos do bosque, da última caminhada juntos, e ele disse:
"Você fica bem de barba, Beto."
Te amo, pai. Feliz aniversário.